A gente faz design

fê pimentel
2 min readFeb 14, 2017

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“O que é design?”

“Mas o que vocês fazem, afinal?”, questiona um senhor sem cerimônia, que observa com tanta surpresa quanto nós, agora. A mesa do restaurante, estilo lanchonete, comprida e com banquetas altas, daquelas para comermos e sairmos logo, parecia feita para criar uma situação curiosa assim, já que senta-se na frente de quem estiver ali.

Eu e duas amigas – uma delas recém começada em um novo trabalho ali por perto – sequer havíamos nos dado ao trabalho de olhar a nossa volta, entretidas nas novidades do novo emprego e das futuras tatuagens delas. A pergunta inesperada me assustou, inicialmente, por ver que ele e a esposa nos ouviam com tamanho afinco. Geralmente detesto intromissões alheias, como essas conversas banais de ônibus ou fruteira de supermercado. Com educação, evito, desconverso, coloco fone de ouvido, mudo de lugar. Mas, naquele momento, por algum feeling, aceitei. Como um desafio do tipo “vai, aonde você quer chegar?”, interrompi o papo com as meninas e respondi: “Fazemos design!”. Literalmente (não por estar almoçando), sempre digo isso de boca cheia.

Na maioria das vezes, no entanto, essa resposta é seguida apenas por um desentendido “ah!” e aceno positivo por parte de quem questionou. E foi exatamente essa a reação, acabando rapidamente com meu orgulhinho besta: “E o que vocês fazem?” Oras, de novo? Design, assim, sozinho, não costuma sanar a dúvida. Confesso ser inicialmente frustante e que sim, dá vontade de pegar um dicionário para a pessoa. É diferente de dizer que se estuda veterinária, por exemplo, onde as pessoas supõe automaticamente que você provavelmente lida com animais.

Ao mesmo tempo, é engraçado ver o olhar instigado das pessoas do outro lado. Então costumo apontar para o que estiver mais perto. “Tá vendo o rótulo desse azeite, por exemplo? Foi pensado por um designer, assim como o desenho da garrafa”. Explicar que aprendemos a projetar sempre cura o meu desânimo anterior. Na maioria das vezes, recebo sorrisos animados e uma sequência de perguntas interessantes.

No fim de um papo sobre o assunto com o meu avô, que passou três anos teimando que eu fazia jornalismo (mas esse é tema para uma outra crônica), ele com certeza saiu achando que eu serei rica e uma espécie de Hans Donner, trabalhando futuramente na Globo como ele idealizava – só que antes no lugar da Renata Vasconcellos. Mas acho que entendeu. Um pouco.

Assim como o simpático e inesperado casal de senhores a nossa frente. “Nossa, o que vocês fazem é muito importante! Continuem assim. Só esse negócio aí de tatuagem que é bobagem, viu? Mas foi um prazer. E boa sorte!” Eles levantaram e nos deixaram com nossos restos de almoços, conversas interrompidas, mas instigadas e com sorrisos nos rostos pelo inusitado – sempre pratos cheios para um designer.

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