La Guirlanda, 1572,

fê pimentel
2 min readApr 26, 2017

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Sobre lugares iluminados. ❤

Santa Mônica. Um dia, tomando café na então mais nova padaria do bairro, observei através do vidro aquele lugar pela primeira vez. Tão discreto quanto fofo. Convidava charmosamente para entrarmos — eu e uma querida amiga, que há meses não via. Uma entreolhada e, quando piscamos, já estávamos lá dentro, nos esbaldando em trouxinhas de Nutella e acompanhadas por um bom som. Que decoração! “La gastronomie est l’art d’utiliser le hourriture pour créer le bonheur” (“A gastronomia é a arte de usar a comida para criar a felicidade”), estava escrito na parede. E os simpáticos garçons, para completar, pareciam saídos de Amélie Poulain. Atores de um cenário de peça de teatro. Ou de um elegante circo em Paris.

Há então três anos em Floripa (tanto eu, quanto o restaurante), me pergunto onde estive durante esse tempo. Mas, tudo bem, nos encontramos na hora certa. Quando decidi que precisava de um cantinho para chamar de meu. Eis essa creperia cultural — francesa, como tantas coisas que fizeram parte da minha vida. Comecei a frequentar. Espaço para ir apreciar um clericot e um crepe de Nutella com morango, o meu predileto. Ah!, e se eu te convidei para irmos lá, saiba que você é muito especial. Porque contei nos dedos as pessoas para quem apresentei esse lugar, de onde só queria boas lembranças.

Ali comemorei meu aniversário. Chorei no espelho do banheiro (quem nunca?). E, acima de tudo, dei muita risada. Muita. Porém, como para sempre é muito tempo, chegou a hora de me despedir. Parece que ali será ocupado pela academia do segundo andar. Fiquei pensando como poderão conseguir malhar naquele canto. Para mim, as paredes sempre ecoarão as gargalhadas, casais apaixonados, os bons cantores, turistas, happy hours de amigos ou famílias que frequentavam simplesmente para jantar. Nesta terça, entrei pela última vez com outra amiga querida. Pedi meu velho clericot com o crepe, ao som de Lenine: já deu minha hora e eu não posso ficar. Enquanto pedi a conta, gravei uma fitinha de memórias do espaço. Namorei pela última vez a decoração, iluminada por fibra ótica, elementos não vistos em qualquer lugar. Coisas que serão para sempre (muito tempo!).

Adoro chegadas, reluto com as partidas. Mas hora de encontrar uma nova paixão gastronômica (é bom observar nosso próprio bairro às vezes). Como chegou a hora de dizer adeus, agradeço aqui cada blues, Tim Maia ou bossa nova, qualquer nota, tocados ali. Pelos drinks do último verão. Por me receber depois do trabalho e teletransportar para Paris por alguns instantes.
E, por fim, para quem dividiu esse canto especial comigo. C’est magnifique! Porque feliz de quem conheceu o La Guirlanda.

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